Pousada Stone of a beach
5 Janeiro 2007
Aproximava-me do aeroporto internacional do Rio de Janeiro, mais conhecido por Galeão. Posso dizer que toda a sua mística se me entranhou nesses precisos momentos: pude desfrutar pela primeira vez da sua magnitude. Colinas, a que mais tarde viria a chamar de morros, inundavam uma planície contagiada por verdura.
O avião iniciava a aterragem e o coração dava sinais. As casas que via ao longe como grãos de areia formavam agora uma tela de óleo semi-esborratada: eram as tão famosas Favelas! Estavam ali prestes a receber-me para o bem e para o mal. Um contraste absoluto. Prédios imponentes lado a lado com a mais pura miséria de casas sem cimento, muitas de madeira e estradas em terra batida. Um mundo sempre distante, mas que agora entrava na minha realidade. E ensaiava na minha mente o que poderia estar acontecer mesmo ali em baixo. Uma cidade misteriosa, muito cobiçada, muito desejada, mas também muito evitada. 8 milhões de pessoas a meus pés... Toda uma série de contradições que se fluidificavam num sentimento muito próprio, mas indefinido.
Aterrei. Despedi-me do João e saí já com 1 hora de atraso tentando não stressar. Peguei na minha mala e liguei para o Flávio de imediato, mesmo antes de me dirigir à porta de saída. Liguei 1, liguei 2, liguei 3 vezes. O telemóvel estava desligado. “E agora? Que faço?” Tinha que pensar rápido. Caso ele aí não estivesse tinha que pegar um taxi. Mas só tinha 8 reais, o resto era em euros. Teria que levantar dinheiro numa caixa automática, mas tinha sido prevenido para não o fazer sozinho, num aeroporto e cheio de malas (realmente mais chamativo que isto seria difícil). Foi então que me lembrei que no Brasil se usam uns indicativos, DDD e DDI para chamadas nacionais e internacionais, respectivamente. Lembrei-me também que se ligasse de um “orelhão” (cabine telefónica pública) não seria necessário acrescentar esses números, pelo que seria a melhor opção a tomar, caso não descobrisse como havia de efectuar a chamada através do meu “celular”.
Saí e foi o caos. Montes de pessoas de agências, de hotéis, de carros, de táxis (os tão temidos) me abordaram. “Senhor, senhor, quer ....”. Dirigi-me a um balcão e pedi um cartão da Telemar (operadora de telecomunicações fixa). Só tinha cartões de 40 créditos.
-Quanto custa?- perguntei eu.
- 8 réaisssss- respondeu-me a menina.
Ufa, que alívio, era tudo o que eu tinha... Liguei do orelhão e aquilo chamou. Era o Flávio!!!!!! Estava no piso de cima e veio ter comigo. Que alívio, que descompressão, que alegria... Fui levantar dinheiro com ele. Levou-me até ao carro e conheci a namorada dele. Ambos muito hospitaleiros e simpatiquíssimos. Tive o primeiro contacto com a cidade by night, by car. Um porto cheio de mercadorias, de navios, a linha vermelha, a lagoa Rodrigo de Freitas... não conseguia fixar tudo, era tanta tanta informação.. E eles contavam-me da nova forma de assalto aeroportuária: gangs “pós-graduados” em assaltos de portáteis; só assaltavam portáteis daqueles que aterravam no Rio e que vinham com a mala laptop ao ombro. Quando o processo se torna muito evoluído, há que partir para a especialização. E só este pormenor fazia-me antever muito...
Fomos ao Catete´s hostel: um albergue no Centro da cidade dentro de um condomínio fechado, muito seguro, com muito bom aspecto, mas com relativamente pouca gente, pouca agitação, pouca adrenalina. Tive que tomar uma decisão. Ficar neste mesmo ou partir para Copacabana, o local desaconselhado pelo Gustavo, mas que certamente estaria no cerne da agitação citadina, cheio de emoções fortes. Optei pela segunda opção. Quando lá cheguei confirmei isso mesmo: lotadíssimo; inglês, português, francês eram as línguas que se iam ouvindo. Com bar próprio na cave e música trepidante. Meninas da recpeção calorosas a fazer juz ao seu local de trabalho.
Um terraço estupendo, com piscina e um outro bar de bebidas onde o pessoal se ia conhecendo. Dormitórios com mais de 10 pessoas cada um. Pedi para ir ver o mais barato, mas fiquei-me por um outro mais sossegado, predominantemente feminino e com um cheiro suportável.

Era ali onde tinha que estar. Paguei 5 noites para assegurar o lugar e fomos os 3 jantar uma picanha estupenda, salteada com arroz e farofa mais uns quantos chopes! Que excelente recepção! Trocámos umas ideias e fui angariando informação variada, desde “trilhas” a percorrer, marcos a não perder, perigos a evitar e locais para desfrutar.
Regressei ao meu quarto. Estava eu e mais eu, cansado, mesmo cansado. Antes de me deitar fui à internet mandar notícias para além Atlântico.
Foi então que me apercebi de um cara totalmente bêbado, um pouco ao quanto descontrolado. A porta de entrada do albergue estava totalmente aberta e tudo indicava que seria um gajo de rua que por lá tinha entrado com muito más intenções. Carreguei várias vezes Alt + F4, dei meia volta e fui directo para o quarto, assim oh (mão fechada com os 5 dedos a conectar-se ventralmente).
“Meto-me em cada uma...”
Tentei fechar os olhos, mas não consegui. A porta do meu dormitório não dava para fechar e eu estava lá sozinho. A qualquer instante o outro rapaz podia entrar sem qualquer problema. E foi o que aconteceu...
Aproximava-me do aeroporto internacional do Rio de Janeiro, mais conhecido por Galeão. Posso dizer que toda a sua mística se me entranhou nesses precisos momentos: pude desfrutar pela primeira vez da sua magnitude. Colinas, a que mais tarde viria a chamar de morros, inundavam uma planície contagiada por verdura.
O avião iniciava a aterragem e o coração dava sinais. As casas que via ao longe como grãos de areia formavam agora uma tela de óleo semi-esborratada: eram as tão famosas Favelas! Estavam ali prestes a receber-me para o bem e para o mal. Um contraste absoluto. Prédios imponentes lado a lado com a mais pura miséria de casas sem cimento, muitas de madeira e estradas em terra batida. Um mundo sempre distante, mas que agora entrava na minha realidade. E ensaiava na minha mente o que poderia estar acontecer mesmo ali em baixo. Uma cidade misteriosa, muito cobiçada, muito desejada, mas também muito evitada. 8 milhões de pessoas a meus pés... Toda uma série de contradições que se fluidificavam num sentimento muito próprio, mas indefinido.
Aterrei. Despedi-me do João e saí já com 1 hora de atraso tentando não stressar. Peguei na minha mala e liguei para o Flávio de imediato, mesmo antes de me dirigir à porta de saída. Liguei 1, liguei 2, liguei 3 vezes. O telemóvel estava desligado. “E agora? Que faço?” Tinha que pensar rápido. Caso ele aí não estivesse tinha que pegar um taxi. Mas só tinha 8 reais, o resto era em euros. Teria que levantar dinheiro numa caixa automática, mas tinha sido prevenido para não o fazer sozinho, num aeroporto e cheio de malas (realmente mais chamativo que isto seria difícil). Foi então que me lembrei que no Brasil se usam uns indicativos, DDD e DDI para chamadas nacionais e internacionais, respectivamente. Lembrei-me também que se ligasse de um “orelhão” (cabine telefónica pública) não seria necessário acrescentar esses números, pelo que seria a melhor opção a tomar, caso não descobrisse como havia de efectuar a chamada através do meu “celular”.
Saí e foi o caos. Montes de pessoas de agências, de hotéis, de carros, de táxis (os tão temidos) me abordaram. “Senhor, senhor, quer ....”. Dirigi-me a um balcão e pedi um cartão da Telemar (operadora de telecomunicações fixa). Só tinha cartões de 40 créditos.
-Quanto custa?- perguntei eu.
- 8 réaisssss- respondeu-me a menina.
Ufa, que alívio, era tudo o que eu tinha... Liguei do orelhão e aquilo chamou. Era o Flávio!!!!!! Estava no piso de cima e veio ter comigo. Que alívio, que descompressão, que alegria... Fui levantar dinheiro com ele. Levou-me até ao carro e conheci a namorada dele. Ambos muito hospitaleiros e simpatiquíssimos. Tive o primeiro contacto com a cidade by night, by car. Um porto cheio de mercadorias, de navios, a linha vermelha, a lagoa Rodrigo de Freitas... não conseguia fixar tudo, era tanta tanta informação.. E eles contavam-me da nova forma de assalto aeroportuária: gangs “pós-graduados” em assaltos de portáteis; só assaltavam portáteis daqueles que aterravam no Rio e que vinham com a mala laptop ao ombro. Quando o processo se torna muito evoluído, há que partir para a especialização. E só este pormenor fazia-me antever muito...
Fomos ao Catete´s hostel: um albergue no Centro da cidade dentro de um condomínio fechado, muito seguro, com muito bom aspecto, mas com relativamente pouca gente, pouca agitação, pouca adrenalina. Tive que tomar uma decisão. Ficar neste mesmo ou partir para Copacabana, o local desaconselhado pelo Gustavo, mas que certamente estaria no cerne da agitação citadina, cheio de emoções fortes. Optei pela segunda opção. Quando lá cheguei confirmei isso mesmo: lotadíssimo; inglês, português, francês eram as línguas que se iam ouvindo. Com bar próprio na cave e música trepidante. Meninas da recpeção calorosas a fazer juz ao seu local de trabalho.


Era ali onde tinha que estar. Paguei 5 noites para assegurar o lugar e fomos os 3 jantar uma picanha estupenda, salteada com arroz e farofa mais uns quantos chopes! Que excelente recepção! Trocámos umas ideias e fui angariando informação variada, desde “trilhas” a percorrer, marcos a não perder, perigos a evitar e locais para desfrutar.
Regressei ao meu quarto. Estava eu e mais eu, cansado, mesmo cansado. Antes de me deitar fui à internet mandar notícias para além Atlântico.


Tentei fechar os olhos, mas não consegui. A porta do meu dormitório não dava para fechar e eu estava lá sozinho. A qualquer instante o outro rapaz podia entrar sem qualquer problema. E foi o que aconteceu...
5 Comments:
AHAHAH! foste sodomizado... eu sabia! Eu vi logo pela cara na foto! AHAHAH! lol
Abraco!
Ah meu C_r__h_.
As possibilidades podem ser imensas...:)
Para a semana há mais.
Temos que nos encontrar nessa árvore de figos. :)
Grande abraço!!
:)
no inicio da proxima semana continuo... ja falta so uns dias...
O que estou tentando passar é a incerteza que na altura vivi. Fico contente por você estar lendo meus relatos com entusiasmo.
Para mim esta é a unica forma de me "forçar" a registar a minha viagem, caso contrario sei bem que estaria sempre a adia-la.
Compartilhando-a semana apos semana torna-se bem mais interessante e a narrativa fica bem mais construtiva, ja que tem vários aspectos que nao me lembro na totalidade. E está quase chegando o dia que estive com vcs todos.
Um beijo e abraços respectivos
Muito bom! Venha lá a 2ª Feira, para sabermos o resto ;)
Grande primaço, sempre cheio de grandes aventuras! Eu sou mais um dos que as irá seguir atentamente e cheio de grande curiosidadede...
Já pensaste passar as tuas aventuras além Atlântico para o papel (mesmo papel)? Aposto que dariam um resultado muito interessante, para além de serem um optimo guia para viagens semelhantes, de pessoas aventureiras como tu! Eu adororaria serguir esse guia, embora me falte o mais importante... Coragem!... :)
Quanto à jantarada temos de marcar isso pra mt breve... Abraço
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